As Flores de Abril — Um conto de amor que floresce fora da estação

 


🌸 As Flores de Abril

Sabe quando a gente passa por um lugar comum, desses que ninguém presta muita atenção, e algo muda? É como se, por um instante, o mundo se curvasse para revelar um pequeno milagre. Foi assim com Júlia. E com Ana. E com um banco de madeira quase esquecido no canto mais discreto do Jardim Botânico.

Júlia sempre foi daquelas pessoas que se escondem atrás dos livros. Não por timidez, mas por defesa. Perdeu a mãe muito jovem, e desde então aprendeu a se acolher nas palavras dos outros. Toda terça, no fim da tarde, ela sentava no mesmo banco, lia o mesmo livro — O Morro dos Ventos Uivantes — e esperava que o tempo curasse em silêncio.

Ana era o oposto. Tinha riso solto, mas olhos atentos. Fotógrafa por paixão e por destino, era fascinada por instantes que ninguém via. Amava capturar o que não podia ser dito — o olhar perdido de uma senhora no ônibus, o reflexo do sol na janela de um apartamento velho, o suspiro de alguém que ama em segredo.

Naquele dia de abril, quando as folhas começavam a mudar de cor e o vento sussurrava como se soubesse demais, Ana viu Júlia. Não foi só ver. Foi perceber.

Ela levantou a câmera, sem pensar. Clic.

O som foi sutil, mas suficiente. Júlia ergueu os olhos. Encontraram-se.

— Você tirou uma foto minha?

Ana hesitou. Não sabia como explicar aquilo. Como dizer: “Eu vi algo em você que parecia poesia.”

— Tirei. Me desculpa. É que... você parecia estar sentindo algo que eu também sinto às vezes. E eu quis guardar.

Júlia não respondeu. Apenas sorriu, pequeno. E foi assim que tudo começou.

🌿 O tempo das coincidências

Na semana seguinte, se cruzaram no sebo da Rua Augusta. Depois, na feira. No café perto da universidade. Coincidências demais para serem ignoradas.

Trocaram números. Mensagens. Silêncios confortáveis.

Ana passou a levar chá para o banco de madeira. Júlia passou a ler em voz alta. Descobriram que tinham mais em comum do que parecia: ambas gostavam de finais tristes, mas que ensinavam algo. Ambas amavam dias nublados. Ambas tinham medo de não serem compreendidas.

— Você já amou uma mulher antes? — Ana perguntou uma noite, olhando para o céu sem estrelas.

— Não — disse Júlia. — Mas acho que estou te amando há semanas, mesmo sem saber que nome dar a isso.

📷 O retrato da coragem

No dia 21 de abril, o céu estava pintado de um laranja impossível.

Ana chegou cedo ao banco. Levava algo nas mãos: uma foto, revelada à moda antiga. Era Júlia, sentada, lendo, com o pôr do sol desenhando ouro em seu rosto.

Atrás da foto, escreveu:

“Há beleza em tudo o que floresce fora da estação.”

Júlia segurou a imagem com cuidado. Leu. Sentiu o coração tremer.

Olhou para Ana. Não disse nada.

Apenas a beijou.

Ali mesmo. No banco esquecido. Entre flores e folhas, entre o que se sente e o que se cala.

🌸 E o amor floresceu

Daquele dia em diante, voltaram ao banco sempre que podiam. Com livros. Com chá. Com sorrisos. Com a leveza de quem não precisa se esconder.

E sabe... talvez o mundo não tenha parado naquele beijo. Mas dentro delas, parou. Só o suficiente para respirar fundo e perceber que, mesmo em meio ao outono, algumas flores teimam em nascer.

E que o amor, às vezes, escolhe os dias mais improváveis pra dizer: “estou aqui.”


Se você gosta de histórias sensíveis, também vai adorar a resenha de O Nome do Vento — uma narrativa poética, mágica e inesquecível.

Outra leitura imperdível é O Amanhã é um Longo Caminho, que também fala sobre amor, dor e coragem em forma de literatura.

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